Fábio Brandt/São Luís – O Estado de S. Paulo
Intervenção de ex-presidente no debate
nacional reverbera pouco; no Maranhão, clima de mudança coloca em xeque seu
domínio
Figura dominante da política nacional
desde que governou o Maranhão na década de 1960, o senador e ex-presidente da
República José Sarney (PMDB), de 84 anos, entrou na campanha desta ano vivendo
um período de declínio.
Essa “baixa” ficou evidente na última
semana, quando Sarney tentou intervir no debate da eleição presidencial. Ele
criticou seus aliados Lula e Dilma Roussef. Disse que o PT corre o risco de
perder a eleição e que Lula parece ter perdido a “aura de invencibilidade”.
Também bateu em Marina Silva (PSB), afirmando que ela “tem cara de santinha”,
mas é “radical” e “raivosa”. As declarações em nada mudaram o cenário da
disputa.
O declínio do patriarca começa no local
onde ele se projetou para a política. O ex-presidente entrou na eleição
maranhense deste ano apoiando o segundo colocado nas pesquisas, Edison Lobão
Filho (PMDB), e sem a perspectiva de, mesmo em eleições futuras, ver um parente
reassumir o governo estadual.
Sarney não tem um herdeiro para
substituí-lo após a aposentadoria – ele diz que deixará a vida pública em
janeiro de 2015. Sua filha, a atual governadora Roseana (PMDB), foi reeleita em
2010 e não pôde disputar o cargo de novo. Depois de especulações sobre tentar o
Senado, ela anunciou que, como o pai, vai se aposentar após terminar o atual
mandato, em dezembro.
Os outros filhos do ex-presidente são o
deputado federal Zeca (PV-MA) e o empresário Fernando. Mas uma rara
convergência entre aliados e adversários de Sarney é a certeza de que nenhum
dos filhos tem condição de assumir o lugar do pai. Um sempre se
dedicou mais à carreira política em
Brasília. O outro se tornou o homem forte dos negócios da família.
Políticos que estiveram com Sarney por
décadas aguardam a chance de ocupar o espaço deixado por ele. Um dos primeiros
da fila é o ministro de Minas e Energia e também ex-governador do Maranhão,
Edison Lobão (PMDB), que emplacou seu filho como candidato do grupo “sarneyzista”
neste ano.
“Edison Lobão pai era o candidato
natural do grupo. Não foi candidato porque teve problema de saúde”, diz o
deputado Chiquinho Escórcio (PMDB-MA), um dos principais auxiliares de Sarney.
O senador Lobão Filho foi escolhido, segundo Escórcio, porque pesquisas do
partido indicavam sua viabilidade. Também foram cogitadas, diz o deputado, as
candidaturas do ex-ministro Gastão Vieira e do presidente da Assembleia
Legislativa, Arnaldo Melo.
A escolha de Lobinho – como é conhecido
o candidato em sua terra natal – acabou tornando a situação eleitoral de Sarney
ainda mais frágil. No meio da campanha, a revista Veja publicou reportagens
ligando não apenas a família Sarney, mas também Lobão pai ao esquema de
corrupção montado pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e pelo
doleiro Alberto Youssef. Segundo a publicação, Costa citou Roseana e o ministro
entre os políticos beneficiados pelo esquema.
A relação entre o grupo de Sarney com
Costa e Youssef passou a ser usada no discurso do candidato oposicionista,
Flávio Dino (PCdoB), ex-deputado federal que está em primeiro nas pesquisas de
intenção de voto e pode até vencer no 1º turno.
No debate entre Dino e Lobão Filho
promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Maranhão, o assunto foi
mote de diversas rodas de conversa paralela. “Ele está foragido”, disse o
deputado Domingos Dutra (SDD-MA), sobre a ausência de Lobão pai no debate. Coube ao candidato defender o
pai. Indagado pelo Estado sobre as acusações, Lobinho disse: “Nunca houve esse
episódio. É inteiramente falacioso.”
Após Lobão ser envolvido no escândalo, o
PT, que entrou formalmente na coligação de Lobinho, enviou adesivos da presidente
Dilma Roussef ao lado de Flávio Dino para manifestar apoio ao candidato do
PCdoB. Um dia depois, a própria presidente da República confirmou a
legitimidade do material. “Eu mandei porque o Flávio Dino me apoia. Há adesivos
para todos os candidatos que me apoiam”, afirmou Dilma em entrevista coletiva.
O candidato de Sarney poderia ter sido
outro. Até o início do ano, Roseana tentou viabilizar o peemedebista Luís
Fernando Silva, ex-secretário da Casa Civil e de Infraestrutura. Mas, por ser
próximo da família de Jorge Murad, marido da governador, ele teve receio de
perder influência em outras alas do PMDB.
Assim como tentou entrar no debate da
eleição nacional, Sarney também participa de eventos da eleição maranhense, em
que manifesta apoio a Lobinho. A depender do resultado das urnas, ele pode ter
não apenas perdas políticas, mas também econômicas. Faz parte do conjunto de
promessas de Flávio Dino cortar repasses do governo para o grupo de comunicação
de Sarney, que inclui a TV Mirante – retransmissora da Globo. “A TV Mirante vai
ter uma participação de acordo com sua importância. Não vou eliminar a TV
Mirante porque isso seria perseguição. Mas não vai ter privilégio, como hoje
tem”, afirmou Dino.
Sarney, Roseana e Edison Lobão não
quiseram conceder entrevista ao Estado.
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