Rádio Voz do Maranhão

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sarney diz que o Maranhão tem sorte de ter Roseana como governadora. O que dizer desse retrato da pobreza mostrado pelo jornal espanhol El País?

Na manhã desta segunda-feira(22), o ex-presidente e senador José Sarney, mais uma vez, vangloriou-se de ter tirado o Maranhão do atraso, em entrevista na Rádio Mirante AM, de sua propriedade.

“Vocês não conheceram o Maranhão da época em que assumi o governo, aos 35 anos de idade. Sempre tive um espírito desenvolvimentista, com planejamento. Fiz as principais rodovias, pontes, e ferrovia. Tirei o Maranhão do atraso”, disse o oligarca.

Segundo ele, o Maranhão continua crescendo com o governo Roseana. “O Maranhão tem sorte de ter Roseana Sarney como governadora, pois ela tem espírito desenvolvimentista”, diz.

O Maranhão tem sorte de ter Roseana como governadora, Sarney? O que dizer, então, dessa realidade mostrada em reportagem do jornal espanhol El País, retratando o drama de famílias que dormem para que a fome passe, em Alto Alegre do Pindaré?

Leia, Sarney, e se manifeste sobre esse tal ‘desenvolvimento’ promovido em 50 anos de mandos de desmandos na política maranhense. Ou se cale para sempre!

A busca pelos ‘excluídos do Bolsa Família’ encontra os brasileiros invisíveis

O EL PAÍS acompanha a procura do Governo por pessoas extremamente pobres que ainda não recebem o benefício, concedido para um quarto da população brasileira
A fila interminável da Esperança

Na porta de uma das casas de barro da zona rural de Alto Alegre do Pindaré (no oeste maranhense), Lucas, de 3 anos, brinca com o cadáver de um pássaro jaçanã ao lado das irmãs Ludmila, 6, e Bruna, 5. Dentro da casa, a mãe, Maria Eliane da Silva, de 22 anos, cuida do filho mais novo de oito meses quando uma equipe da Secretaria de Assistência Social entra para conversar com ela sobre o Bolsa Família.
A família só se cadastrou no programa do Governo federal agora, porque antes não tinha os documentos necessários, apesar de nunca ter tido nenhuma fonte segura de renda na vida. O marido de Maria faz bicos e recebe, quando consegue trabalho, em média 30 reais por dia. Nos meses bons, paga os 50 reais de aluguel da casa de três cômodos e compra comida para os filhos. Nos meses ruins, todos passam dias à base de uma papa feita de farinha e água, contam eles.

No município, seis de cada dez pessoas vive na pobreza, sendo que quatro delas estão em famílias cuja renda per capita não chega a 70 reais –são as consideradas extremamente pobres. As opções de trabalho são escassas: uma pequena rede de comércio no centro e cargos na prefeitura. A maioria das pessoas trabalha como diarista em roças ou no “roço da juquira”, a limpeza de áreas desmatadas para o pasto do gado. Cerca de metade dos moradores depende da bolsa do governo.

A equipe da prefeitura de Alto Alegre do Pindaré que visitava a casa de Maria Eliane fazia a chamada “busca ativa”, que tem o objetivo de procurar pessoas em situação de extrema pobreza que ainda não estão incluídas no benefício. Estima-se que 25% dos pobres do município que teriam direito à bolsa ainda não a recebem.

O EL PAÍS acompanhou o trabalho da equipe por dois dias na semana passada. Nas visitas, presenciou casos como o de Antônia Costa, de 31 anos, que se prostitui para complementar a renda; de Francilene Araújo, uma adolescente de 14 anos recém-casada que nunca saiu do povoado onde mora, ou de Sara de Jesus, grávida de quatro meses, que passa fome ao lado da filha de quatro anos. Nenhuma foi atrás do benefício ou porque moram longe da secretaria, onde é possível fazer o cadastro, ou por não terem os documentos necessários (CPF ou título de eleitor). Ao identificar casos assim, a equipe cadastra as famílias, explica como o programa funciona e como tirar os documentos –muitos não sabem que a primeira via é de graça.

A equipe de “busca ativa” atua na cidade há um ano, mas ainda não visitou todos os cerca de 200 povoados porque muitos só são acessíveis por meio de estradas precárias. A secretaria não tem carro adequado para chegar a esses locais, mas afirma que uma caminhonete chegará nos próximos meses. Um barco também foi comprado para que fosse possível alcançar as áreas ribeirinhas ou que alagam na temporada de chuva, mas o piloto ainda espera a chegada da habilitação para poder manejá-lo. No mês passado, 44 famílias foram “captadas” nas visitas.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome diz que o governo lançou a ação há três anos e, neste período, as equipes municipais conseguiram localizar 1,35 milhão de famílias. Atualmente, 13,9 milhões de casas recebem o Bolsa Família (cerca de um quarto da população brasileira), quase um milhão delas no Maranhão, onde se concentra a maior proporção de pobres do Brasil.

Para a ONU, o programa teve uma importante participação na redução da fome no país, que nos últimos 20 anos caiu pela metade. Atualmente, 3,4 milhões de pessoas (o equivalente a 1,7% da população) não têm o que comer no Brasil.
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Conclusão: contra fatos não há argumentos. Não adianta Sarney continuar se vangloriando de ter tirado o Maranhão do atraso. A realidade, na maioria dos municípios, é de pobreza extrema. Cadê o progresso? Cadê o desenvolvimento? Por que milhares de maranhenses continuam saindo do estado para buscar sobrevivência em outros lugares? Na verdade, o longo domínio político do grupo Sarney produziu grande concentração de renda e exclusão social. É fato!

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