Rádio Voz do Maranhão

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

DA FOLHA DE S. PAULO: Governo do MA aluga imóvel 'encalhado' de candidato aliado de Sarney

FABIANO MAISONNAVE
DE SÃO PAULO
DIÓGENES CAMPANHA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

Após passar quatro anos sem conseguir comercializar um edifício residencial de sua propriedade, o candidato da situação ao governo do Maranhão,Edison Lobão Filho (PMDB), alugou o imóvel para governo do Estado.

Diógenes Campanha/Folhapress 
Prédio que pertence a Edison Lobão Filho; 
móvel foi alugado pelo governo do Estado
O contrato de R$ 30 mil mensais com a Secretaria da Saúde dispensou licitação. Quem o assinou, no início de fevereiro, foi o secretário da pasta, Ricardo Murad, cunhado da governadora Roseana Sarney (PMDB), que apoia a candidatura do filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB).

O imóvel de cinco andares é da Difusora Incorporação e Construção –Lobão Filho tem 99,43% de participação na empresa desde 2005. Além de fechar contrato por 12 meses, em um total de R$ 360 mil, o governo estadual pagou, em julho, uma reforma de R$ 87,9 mil no local, também sem licitação.

Construído para ser residencial, o edifício Paris, no bairro Turu, teve anúncios em outdoors e em classificados na capital maranhense, mas fracassou nas vendas –problemas como trânsito e falta de estrutura atrapalharam, afirmam corretores.

A justificativa para o aluguel do imóvel foi a instalação do Centro Ambulatorial de Atenção à Saúde do Paciente Oncológico. Segundo o governo, o local começou a funcionar em 28 de agosto, pouco mais de seis meses após a assinatura da locação.

A Folha esteve na unidade nesta segunda-feira (29). Classificado por rivais de Lobão Filho na campanha como "clínica fantasma", o edifício ainda guarda resquícios de sua origem residencial. Entre o portão da rua e a entrada do centro médico há uma churrasqueira e um balcão da antiga área de lazer.

No estacionamento, ambulâncias param diante dos restos de um barracão da obra, onde ainda há indicação para o que era o stand de vendas dos apartamentos. Ao lado da sala de espera, um carrinho de compras divide um recinto vazio com uma maca e uma cadeira de rodas.

"Esse aí é o hospital que o Lobão 'fez'?", diz, desenhando as aspas com os dedos, a ambulante Iara Rocha, 22, que vende biscoitos na esquina em frente ao prédio. "Faz dois meses que botaram essa placa [identificando o ambulatório], mas quase não vejo pacientes. Só gente limpando e pondo o lixo para fora."

A reportagem viu apenas três pacientes em cerca de uma hora nos arredores da unidade durante a tarde. A balconista Jurema Pereira, 35, que trabalha em frente ao ambulatório, diz que "o movimento é maior pela manhã".

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a campanha de Lobão Filho disse não ver conflito ético na locação do imóvel para o governo. Afirmou que o negócio foi fechado antes do início da campanha e que o peemedebista está afastado do cotidiano de suas empresas desde que assumiu o mandato de senador.

Lobão Filho afirmou à Folha que não pretende renovar o contrato, válido até fevereiro de 2015, caso seja eleito. "Não posso ter relação com o Estado sendo governador", disse. E defendeu o negócio. "Não sendo eu o gestor, por que não alugar um prédio com aquela localização, por esse preço, para fazer a clínica?"

Segundo Lobão Filho, seria um "escândalo" apenas se o valor extrapolasse, por exemplo, R$ 100 mil mensais. Procurado, o secretário da Saúde do Maranhão, Ricardo Murad, está em férias e não pode conceder entrevistas, informou sua assessoria.

A Secretaria da Saúde informou que o centro oncológico funciona com 18 consultórios e que "laudos técnicos e pareceres" subsidiaram a dispensa de licitação. A legislação maranhense permite a dispensa da concorrência para compra ou aluguel de imóveis "cujas características de instalações e localização sejam elementos determinantes da decisão".

A pasta afirmou ainda que o local foi escolhido por estar "próximo de bairros muito populosos e com muita facilidade de acesso" e que o valor do aluguel é "compatível com o de mercado".

No último dia 23, o governo do Maranhão divulgou ter feito cerca de 2.200 atendimentos no centro. Os números incluem 786 consultas e "mais de 900 procedimentos na sala de coleta de exames". A pasta informou ainda que o centro oncológico deixará o edifício do senador Lobão Filho tão logo fique pronta a construção de uma unidade definitiva, hoje em obras.

Um comentário:

  1. Acho que não tem nada a ver essa questão citada pois todos sabem que Lobão Filho é empresário além de político.

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